ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO COM O USO DE OPÇÕES

© Itamar De Zan, 2003.

 

No último capítulo vimos um exemplo de estratégia para estabelecer um preço mínimo de venda com o uso de opções. Retomaremos esta estratégia mais adiante, quando mostrarei mais um exemplo real. Neste capítulo, contudo, vamos iniciar o estudo de duas estratégias que envolvem o uso de opções para se beneficiar de altas no preço do produto, na entressafra, em função de problemas climáticos no desenvolvimento da safra norte-americana.

 

A Especulação com Produto Armazenado

 

Uma prática comum entre os produtores locais de soja é a especulação com o produto armazenado. Ou seja, ao invés de vender a safra logo que a colheu, o produtor mantém o produto armazenado para se beneficiar de uma possível alta dos preços no futuro próximo. Um dos principais motivos que leva os produtores a assumir este risco é uma possível quebra na safra norte-americana. A safra norte-americana de soja é plantada no período de maio a junho, e colhida em meados de setembro até o começo de novembro. Historicamente, problemas climáticos com a safra norte-americana, são associados às maiores altas do mercado da soja. Aqui, novamente, as opções podem ser de grande valia para o produtor, ao diminuir sua exposição ao risco de estar errado em seu prognóstico.

 

Os Fatos

 

O gráfico mostra a evolução diária da cotação do contrato futuro de novembro de 2003, para o mercado da soja, negociado na Bolsa de Chicago. As cotações estão representadas em centavos de dólar por “bushel”. Observe que de meados de maio até meados de junho a cotação do contrato atingiu os seus patamares mais altos, refletindo preocupações com o plantio e desenvolvimento inicial da safra norte-americana. Nas primeiras semanas de junho, chegou à casa dos $5.85 dólares por “bushel”, equivalente a $12.90 dólares por saca. Desde então, tem estado em constante queda, sendo cotado a $5.17 dólares por “bushel” em 01 de agosto, sexta-feira, o que equivale a $11.40 dólares por saca. A partir deste gráfico, vou mostrar um exemplo de estratégia de comercialização do produto armazenado.

 

Comprando Opções para se Proteger de uma Queda nos Preços

 

Uma das estratégias envolve manter o produto armazenado, para se beneficiar de possíveis altas, e comprar ao mesmo tempo opções de venda para se proteger de uma queda nos preços. Vamos supor que em meados em junho o produtor tivesse parte de sua safra armazenada e desejasse aguardar mais tempo, antes de vender o seu produto, para se beneficiar de uma possível quebra na safra norte-americana. Vamos usar como referência o contrato futuro de novembro de 2003, demonstrado no gráfico.

O produtor, então, ao rever os dados estatísticos das bases históricas, constatou que em outubro a base local, ou seja, a diferença entre o preço local e o preço do contrato futuro de novembro é, em média, $0.15 centavos acima. Como as cotações do contrato futuro de novembro eram boas naquele momento (ponto “A” do gráfico), ele decidiu comprar uma opção de venda com preço de exercício em $5.80 dólares por “bushel” ou $12.80 dólares por saca, pagando um prêmio de $0.65 centavos de dólar por saca. Assim, ele estabeleceu um piso mínimo de venda de $12.30 dólares por saca, até 24 de outubro (quando vence a opção):

 

Preço de Exercício

+

Base Esperada

Prêmio Pago

=

Piso Mínimo de Venda

$12.80

+$0.15

$0.65

$12.30

 

Com esta estratégia, ele estará protegido até 24 de outubro, quando expira a opção, e também quando se espera que a base local se aproxime das médias históricas. Com isto, ele substitui o risco de uma queda dos preços pelo risco de variação da base que, em geral, é mais estável e previsível. Assim, ele pode aguardar até meados de outubro, muito mais tranqüilo, por uma possível alta nos preços da soja, em função de uma possível quebra de produção na safra norte-americana. Caso ocorra de fato uma alta nas cotações dos preços futuros da soja, seu risco estará limitado ao prêmio pago pela opção, ou seja, $0.65 centavos de dólar por saca. Esta pequena perda, no entanto, pode ser compensada pelas vezes em que seu prognóstico estiver certo, pois poderá vender livremente a sua produção pelos preços do mercado local. Como vimos anteriormente, esta é a principal vantagem das opções — elas não sujeitam o produtor a nenhum tipo de obrigação, além do prêmio que já foi pago pela sua compra, a semelhança de uma apólice de seguro.

 

Liquidação Antecipada

 

O produtor pode também, ao constatar que houve uma queda acentuada dos preços futuros, como é o caso de nosso exemplo (vide gráfico), liquidar a opção antecipadamente para realizar o lucro da opção. De fato, em 01 de agosto, sexta-feira, no ponto “B” assinalado no gráfico, a mesma opção que em meados de junho foi comprada por um prêmio de $0.65 centavos de dólar por saca, está cotada a $1.46 dólares, representando um lucro líquido de $0.81 centavos:

 

Prêmio

Recebido na Liquidação

Prêmio Pago

=

Lucro Líquido

$1.46

$0.65

$0.81

 

Como o tamanho padrão dos contratos de opções é de 5000 “bushels” ou aproximadamente 2.267 sacas, isto representa um lucro líquido de US$ 1.800 (um mil e oitocentos dólares) por contrato de opção. Este lucro pode, assim, representar um incremento no resultado final da comercialização de seu produto.