ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO COM O USO DE OPÇÕES

© Itamar De Zan, 2003.

 

Dando continuação ao menu de estratégias para comercialização da soja, com o uso de opções, estudaremos, neste capítulo, mais alguns exemplos.

 

Venda da Produção na Safra e Compra de “Calls”

 

Esta estratégia é apropriada para aqueles momentos em que o produtor conta com um bom preço na época da colheita, como aconteceu com a safra de soja 2002/2003. Nestes momentos o produtor se pergunta: “Devo vender minha produção agora ou armazenar e esperar por uma alta nos preços?” Se ele espera lucrar com possíveis problemas climáticos no plantio ou desenvolvimento da safra de soja norte-americana, ele pode vender sua produção na colheita e comprar opções de compra ou “calls”, para se beneficiar de uma possível alta nas cotações da soja na Bolsa de Chicago. Como vimos em edições anteriores, o comprador de uma opção de compra ou “call” tem o direito, mas não a obrigação, de comprar um determinado contrato futuro a um preço determinado, dentro de um prazo pré-determinado. Esta modalidade de opção equivale a uma apólice de seguro, onde a seguradora garante a compra do produto a um certo preço, chamado preço de exercício, pelo prazo de validade da apólice. Trata-se, portanto, do inverso da opção de venda ou “put”. Para tanto, o comprador tem de pagar um prêmio. Se os preços da commodity aumentarem além do preço de exercício ou de garantia, o produtor recebe a diferença. Ressaltamos, novamente, que as opções são referenciadas nas cotações dos contratos futuros de soja negociados na Bolsa de Chicago, denominados em dólares norte-americanos. Assim, elas não oferecem proteções ou garantias contra variações cambiais do dólar frente ao real. Como esta estratégia mais se assemelha a uma especulação, do que uma operação genuína de proteção ou hedge, o produtor deve se utilizar dela com muita cautela.

 

Comprando Opções de Venda para Estabelecer um Preço Mínimo

 

Conforme prometido anteriormente, vamos estudar outro exemplo de estabelecimento de preço mínimo de venda, em dólares norte-americanos, com o uso de opções. Desde a última edição os contratos futuros de soja, negociados na Bolsa de Chicago, recuperaram as perdas sofridas nas semanas anteriores e estão próximos aos patamares de meados de junho, na data em que escrevo este texto. O gráfico mostra a evolução dos preços do contrato futuro de maio de 2004. A última cotação em 29 de agosto de 2003 é de $5.795 dólares por “bushel” ou $12.78 dólares por saca de 60 Kg. O produtor, então, revendo as médias das bases históricas nos anos de maiores altas no mercado, verifica que a base em março é em torno de $1.60 abaixo do contrato futuro de maio. Com estes dados ele já pode calcular a projeção do preço de venda:

 

Contrato
Futuro
Maio 2004

+

Base Esperada
Março 2004

=

Projeção
do Preço Março 2004

$12.78

–$1.60

$11.18

 

Constatando que este preço já cobre os seus custos de produção e ainda lhe garante uma margem de lucro razoável, o produtor decide se proteger contra quedas no preço da soja, até março de 2004, comprando opções de venda, ou “puts”. O preço de exercício mais próximo a $5.795 dólares por “bushel” é o de $5.80 dólares, que está sendo negociado a um prêmio de $0.3375 centavos de dólar por “bushel”. O que isto significa? Isto significa que para comprar uma opção de venda com preço de garantia em $12.78 (5.80 X 2.205 = 12.78) dólares por saca, referenciada na Bolsa de Chicago, o produtor deve pagar um prêmio de $0.75 (0.3375 X 2.205 = 0.75) centavos de dólar por saca de 60 Kg. Assim, o produtor pode então calcular o seu preço mínimo de venda:

 

Preço de Exercício
da Opção
de Venda

+

Base em Março 2004

Prêmio
Pago

=

Preço Mínimo de Venda
Março 2004

$12.78

–$1.60

$0.75

$10.43

 

 

Uma vez estabelecida esta estratégia, denominada operação de hedge, existem duas possibilidades:

 

Cenário #1: Os Preços Caem

Se os preços caírem na Bolsa de Chicago, e presumindo que a base se mantenha a $1.60 dólares abaixo do contrato futuro de maio, conforme a média histórica, o produtor receberá o preço líquido de $10.43 dólares por saca. Vamos supor que em meados de março de 2004 o preço do contrato futuro de maio tenha caído para $11.60 por saca e o preço local da soja seja $10.00 dólares (preço futuro – base de $1.60 abaixo do contrato futuro). Com o contrato futuro cotado a $11.60, a opção de venda com preço de exercício em $12.78 pode ser liquidada por, pelo menos, seu valor intrínseco de $1.18 dólares por saca (12.78 – 11.60 = 1.18). Deduzindo-se o prêmio de $0.75 centavos de dólar pago pela opção, isto dá ao produtor um ganho líquido de $0.43 centavos. Somando-se isto ao preço de $10.00 dólares obtido no mercado local, o produtor tem um preço final de $10.43 dólares por saca.

 

Cenário #2: Os Preços Sobem

Se os preços subirem, o produtor deixa a opção vencer ou expirar sem valor, porque o valor do direito de vender a $12.78 é nulo quando o contrato futuro está sendo negociado acima deste preço na expiração. Assim, o ganho do produtor será qualquer preço obtido no mercado local, menos o prêmio pago pela opção. Suponha que quando o produtor colher sua safra, o contrato futuro de maio esteja cotado a $15.00 dólares e o preço local seja de $13.40 (preço futuro – base de $1.60). O produtor deixa a opção expirar sem valor e o seu ganho líquido será $12.65 dólares (preço no mercado local de $13.40 – o prêmio de $0.75 pago pela opção).